Não é de hoje que várias comunidades tradicionais do Brasil têm sofrido com a perda de seus territórios, seja por conta da criação de reservas ambientais sem a preocupação com as pessoas que vivem no local, como no caso do Ilhéus do Rio Paraná e dos Pescadores Artesanais da Ilha de Superagui, ou pelo anseio desenfreado de desenvolvimento econômico, como, ao que tudo indica, deve acontecer com várias comunidades indígenas do Pará caso haja a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte.
No último dia 12 a Associação Brasileira de Antropologia divulgou um artigo retratando a situação do Quilombo das Mangueiras, em Belo Horizonte. Os quilombolas estão na região desde a segunda metade do século XIX, porém a partir da década de 20 viram seu território ser reduzido, primeiro pela ocupação dos Werneck, poderosa família da capital mineira, e, posteriormente, por obras de infra-estrutura custeadas pelos governos municipal e estadual. Uma situação que nos lembra em muito a de duas comunidades quilombolas paranaenses, a Comunidade Invernada Paiol de Telha em Guarapuava, que teve suas terras ocupadas por imigrantes alemães na década de 50, e a Comunidade de Adelaide, Castorina e Tobias, em Palmas, que entre outras coisas viu ser construído o aeroporto do município dentro do seu território.
Como se não bastasse a redução demasiada da área em que vivem, hoje as 19 famílias do Quilombo das Mangueiras têm uma preocupação maior: o desaparecimento da comunidade em virtude de projetos que prevêem a urbanização do território devido a escolha de Belo Horizonte como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014. Segundo o artigo publicado, o projeto de urbanização da localidade onde está o quilombo é discutido desde o ano passado e está sendo celebrado como um grande empreendimento por representantes do governo mineiro e de empresas. Contudo, a comunidade sequer foi consultada sobre o assunto, pois só tomou conhecimento dele através da imprensa.
O artigo da Associação Brasileira de Antropologia ainda ressalta que o Quilombo das Mangueiras recebeu sua certidão de autorreconhecimento em dezembro de 2005, possui laudo antropológico com mais de 200 páginas elaborado por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e está com seu processo de titulação no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) em estágio avançado. Entretanto, nem assim os investidores e órgãos do governo mineiro responsáveis pela possível urbanização da área fazem menção à existência do Quilombo das Mangueiras.
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