É com imensa tristeza que fazemos memória da mulher lutadora ANÁLIA GONÇALVES GUIMARÃES, falecida no último dia 02 de Março no final da tarde.
Dona Anália, como era carinhosamente conhecida por seus amigos e familiares marcou a luta pelos direitos humanos no Paraná, especificamente no direito quilombola na comunidade quilombola Invernada Paiol de Telha Fundão. Mulher de fibra, sempre esteve à frente em sua simplicidade da organização dos vários acampamentos feitos pelos herdeiros de Balbina Francisca Siqueira na área do Fundão. A paixão pela vida sempre a motivou garantir a visibilidade da Comunidade Invernada Paiol de Telha Fundão, mesmo diante das dificuldades, ameaças, processos que afetam essa comunidade até hoje.
Que todos/todas tenhamos o compromisso de continuar seu testemunho de vida e opção pela esperança junto à luta de reconhecimento, demarcação e titulação das comunidades quilombolas.
Abaixo, segue um trecho do depoimento de Dona Anália reproduzido no fascículo da Nova Cartografia Social que retrata a história da comunidade:
“Tivemos que sair corrido do FUNDÃO para não morrer, sofremos muito porque não tinha emprego em Guarapuava, pois fomos morar nessa cidade no Cascavelzinho, no meio do banhado, sofrendo... Quando tinha serviço, trabalhava o dia inteiro com fome, depois que acabava o dia, nós recebíamos, comprava comida pra dar para os filhos, tinha três naquela época. Depois de tanto sofrimento, saímos de lá procurar patrão bom, foi pior ainda, porque tinha dias que o Domingos saía trabalhar longe, o patrão não dava recurso para deixar na casa, as crianças passavam fome. Isso aconteceu quando fomos expulsos do Fundão. Hoje, ainda estamos sofrendo, porque ficar na beira da estrada, no barranco não é vida boa. Mas, estamos lá porque queremos nossa terra de volta”. (Anália Gonçalves dos Santos, 77 anos, Núcleo do Barranco em Reserva do Iguaçu)
Também registramos o depoimento do Advogado Fernando Prioste, da Terra de Direitos, sobre o falecimento de Dona Anália:
"Dona Anália faleceu no mesmo momento que em Curitiba se realizava mais uma audiência judicial, onde aqueles que roubaram a sua terra no passado tentam impedir a titulação do território no presente. As ocupações e o barranco foram lembrados na audiência como atos de luta por direitos, de resistência. Ela não viu o Fundão voltar aos quilombolas, mas quando isso ocorrer teremos a certeza que a sua indignação e insistência foram fundamentais para garantir a sobrevivência da comunidade e de sua memória. Vai a mulher e ficam seus atos!"
quarta-feira, 3 de março de 2010
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