HISTÓRICO DA REDE PUXIRÃO

A emergência de identidades coletivas no Brasil nas últimas décadas tem revelado a existência de diversos grupos étnicos, organizados em movimentos sociais, que buscam garantir e reivindicar direitos, que sempre lhes foram negados pelo Estado. Desta forma, compreendem-se sem exaustão os motivos para o qual um país tão diverso em sua composição étnica, racial e cultural, a persistência de conflitos oriundos de distintas visões de mundo e modos de vida, que desencadeiam desde o período colonial, lutas pela afirmação das identidades coletivas, territorialidades especificas e reconhecimento dos direitos étnicos.



Na região Sul, especialmente no Paraná e Santa Catarina, a invisibilidade social é uma das principais características dos povos e comunidades tradicionais. Até pouco tempo atrás, a inexistência de estatísticas e censos oficiais fez com que estes grupos elaborassem seus levantamentos preliminares numa tentativa de afirmarem sua existência coletiva em meio a tensões, disputas e pressões que ameaçam seus diretos étnicos e coletivos garantidos pela Constituição Federal de 1988 e, diversos outros dispositivos jurídicos infraconstitucionais[1].



Destas demandas surge, na região Sul, a Rede Puxirão dos Povos e Comunidades Tradicionais, fruto do 1º Encontro Regional dos Povos e Comunidades Tradicionais, ocorrido no final do mês de Maio de 2008, em Guarapuava, interior do Paraná. Neste espaço de articulação, distintos grupos étnicos, a saber: xetá, guaranis, kaingangs, faxinalenses, quilombolas,benzedores e benzedeiras, pescadores artesanais, caiçaras, cipozeiras, religiosos de matriz africana e ilhéus; tais segmentos se articulam na esfera regional fornecendo condições políticas capazes de mudar as posições socialmente construídas neste campo de poder. Ademais, a conjuntura política nacional corrobora com essas mobilizações étnicas, abrindo possibilidades de vazão para as lutas sociais contingenciadas há pelo menos 3 séculos, somente no Sul do País.



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Seminário Estadual de Estratégias de Promoção da Cadeia de Calor do Pinhão no Paraná

O Seminário Estadual de Estratégias de Promoção da Cadeia de Valor do Pinhão no Paraná, será realizado nos dias  22 e 23 de novembro de 2012 nas dependências da Fundação Rureco localizada na BR 277, Km 348, município de Guarapuava, Estado do Paraná.

O Seminário será a última atividade do Projeto 537 – MA “Cultura e Tradição: estratégias de promoção da CdV do Pinhão no Paraná” quem vendo desenvolvido pelo Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP) em parceria com a Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais, apoiado pelo Ministério do Meio Ambiente por meio do Programa de Projetos Demonstrativos (PDA) com objetivo de fomentar a estruturação da CdV do Pinhão no Paraná, fomentando estratégias de valorização e fortalecimento do pinhão como produto da sociobiodiversidade da Mata Atlântica e desta maneira fortalecer sócio-culturalmente os povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares.

São objetivos do Seminário:
1) Promover a integração dos diversos atores da cadeia de valor do pinhão das diferentes regiões trabalhadas pelo projeto;

2) Apresentar os produtos elaborados pelo projeto para fins de avaliação e apreciação, tais como, Plano de Melhoria da CdV do Pinhão, Mapa da Cadeia de Valor do Pinhão e proposta de criação de Grupo Gestor da Cadeia de Valor do Pinhão no Paraná;

3) Viabilizar o dialogo com o poder público por meio do Plano Nacional de Promoção das Cadeias dos Produtos da Sociobiodiversidade, afim de articular ações e políticas públicas para continuidade das ações fomentadas pelo projeto, bem como, os demais produtos da sociobiodiversidade presentes no Bioma Mata Atlântica.


CCJ aprova criação do Conselho Estadual de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais


19/11/2012 17:55

CCJ aprova criação do Conselho Estadual de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais

Entre as seis mensagens do Poder Executivo aprovadas na sessão extraordinária desta segunda-feira (19) pela Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa está o projeto de lei nº 567/12, que cria o Conselho Estadual de Povos Indígenas e Comunidades Tradicionais do Estado, entidade a ser composta por 24 membros na estrutura organizacional da Secretaria de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos.
O mesmo ocorreu com o projeto de lei nº 565/12, que autoriza o Poder Executivo a abrir créditos adicionais até o limite de R$ 46,5 milhões, destinados a implementar programa de desapropriação de áreas para dar lugar a obras do Governo que sediarão o programa “Tudo Aqui Paraná”, bem como a ampliação do pátio de triagem do Porto de Paranaguá; e com o projeto de lei nº 566/12, que institui a taxa de licenciamento para uso ou ocupação da faixa de domínio das rodovias do Estado, administradas pelo Departamento de Estradas de Rodagem (DER).
Mensagens – As outras três mensagens do Governo aprovadas foram o projeto de lei nº 568/12, que trata de doação de imóvel situado no município de Araucária; o projeto de lei nº 570/12, que cria o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher, também no âmbito da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, e a emenda de Plenário apresentada ao projeto de lei nº 506/12, que transfere do DER para a COMEC a outorga da concessão do serviço público de transporte intermunicipal relativo à Região Metropolitana de Curitiba.
O projeto de lei nº 569/12 (mensagem nº 071/12), autorizando o Poder Executivo a contratar operações de crédito junto ao Banco do Brasil para desenvolvimento do Programa de Apoio ao Investimento dos Estados e do Distrito Federal –PROINVEST, teve a votação adiada em função de pedido de vistas apresentado pelo deputado Tadeu Veneri (PT). E o relator do projeto de lei nº 576/12 (mensagem nº 069/2012), deputado Alexandre Curi (PMDB), pediu o adiamento de sua votação. Esta matéria dispõe sobre o Fundo Estadual de Saúde.
Também foram aprovados o projeto de lei nº 531/12, de autoria do Tribunal de Justiça, transferindo os municípios de Bela Vista da Caroba e Pinhal de São Bento para a Comarca de Ampére; o projeto de lei nº 548/12, de autoria do Tribunal de Contas, regulamentando a concessão das gratificações de função e pelo exercício de encargos especiais aos servidores efetivos daquela corte; e o projeto de resolução nº 15/12, da deputada Marla Tureck (PSD), instituindo na Assembleia o Prêmio Mulher Empreendedora. Já o projeto de lei nº 533/12, de autoria do Tribunal de Justiça e referente à criação do Fundo de Justiça do Poder Judiciário, teve a votação mais uma vez adiada, desta feita em razão da ausência do relator.
O deputado Elio Rusch pediu vistas da emenda apresentada em Plenário ao projeto de lei nº 983/11, do deputado Luiz Eduardo Cheida (PMDB), instituindo período para que as pessoas físicas e jurídicas que tenham sob sua guarda o BHC (hexaclorobenzeno) ou qualquer outro agrotóxico proibido por lei, apresentem declarações junto aos escritórios da Secretaria de Estado da Agricultura e do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER).
Os deputados Ademar Traiano (PSDB) e Tadeu Veneri pediram vistas do projeto de lei nº 177/12, do deputado Rasca Rodrigues (PV), disciplinando a coleta e o transporte do cerne da imbuia (Ocotea Porosa) em propriedades rurais. A matéria recebeu parecer contrário do relator, deputado Pastor Edson Praczyk (PRB).
Entre as proposições rejeitadas na sessão de hoje está o projeto de lei nº 503/12, do deputado Leonaldo Paranhos (PSC), isentando do pagamento de pedágio, nas praças existentes num raio de 50 km dos limites do território dos municípios, os usuários que procedam a tratamento de saúde, que desempenhem atividade profissional ou que sejam estudantes fora do município de seu domicílio.
A CCJ volta a se reunir nesta terça-feira (20), às 13h30, na Sala das Comissões, com pauta composta pelas proposições remanescentes da sessão extraordinária.
Fonte: Assessoria de Imprensa (41) 3350-4188 / 4049
Jornalista: Sandra C. Pacheco

Fonte: http://www.alep.pr.gov.br/imprensa/noticias/noticia/22072/ccj-aprova-criacao-do-conselho-estadual-de-povos-indigenas-e-comunidades-tradicionais/ 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Cipozeiros em Movimento irão realizar Oficina de Artefatos Tradicionais




CARTA DAS BENZEDEIRAS

Nós, benzedeiras, benzedores, curandeiras, curadores, costureiras e costureiros de rendidura e/ou machucadura, rezadeiras e rezadores, remedieiras e remedieiros, massagistas tradicionais, parteiras e aprendizes de benzedura da região, representados neste Encontro por detentores de ofícios tradicionais de cura dos municípios de Fernandes Pinheiro, Inácio Martins, Irati, Rebouças, Turvo, São João do Triunfo e São Mateus do Sul, reafirmamos nossas práticas e conhecimentos tradicionais na participação do 2º. Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná, nos dias 09 e 10 de novembro de 2012, realizado na Sede da Terceira Idade, no município de Rebouças, região centro sul do Estado do Paraná, com 80 participantes e também 20 convidados entre autoridades, pesquisadores e apoiadores.
Esse encontro é parte de nosso processo organizativo como detentores de ofícios tradicionais de cura organizados no Movimento das Aprendizes da Sabedoria (MASA), desde os anos de 2007, tendo como principal desafio o reconhecimento público e valorização das práticas tradicionais desenvolvidas por nós nesta região.
Fortalecemos neste Encontro nossas práticas e conhecimentos tradicionais e nossa existência coletiva, ressaltando-o como fruto de nossas práticas tradicionais de cura “benzimentos, curas, rezas, simpatias, orações, esfregações, puxados, banhos, costuras de rendidura, massagens” e nossas manifestações culturais que unem fé,  tradição e devoção “novenas, mesadas de anjo, danças de São Gonçalo, procissões, recomendas” que são realizadas por nós nas diversas localidades dos municípios da região centro sul do Paraná, em que  se destacam os detentores de ofícios tradicionais como sujeitos deste processo organizativo.
Em nossa caminhada temos identificado diversos conflitos e situações que nos conduziram para uma aproximação de nossas realidades, tendo realizado nos anos de 2008 à 2011 o Mapeamento Social dos Detentores de Ofícios Tradicionais de Cura nos municípios de Rebouças e São João do Triunfo, resultando na identificação de 294 detentores de ofícios tradicionais nestes municípios. Informações que no encontro compartilhamos no lançamento do Boletim Informativo do Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil “Conhecimentos Tradicionais e Mobilizações Políticas: o direito de afirmação da Identidade de Benzedeiras, municípios de Rebouças e São João do Triunfo, Paraná”.
Como resultado de nossas trocas e discussões, na defesa nossa existência coletiva, encaminhamos em nosso Encontro, os seguintes pontos:

Compromissos
Ampliar o processo de mobilização, valorização e reconhecimento dos detentores de ofícios tradicionais de cura nos municípios já organizados e também em outras regiões do estado e do Brasil.
Fortalecer nosso movimento com o desafio de motivar nossas comunidades por intermédios de encontros de troca de experiências, para que nossos conhecimentos sejam de uso das comunidades; resgatar as práticas tradicionais que manifestam nossa cultura (Romaria de São Gonçalo, Mesada de Anjo, Olhos d´Água do Monge João Maria, Festas de Santo, Novenas, Procissões); envolver as gerações mais jovens nos espaços que nos organizamos, a fim de que estes, respeitem nosso modo de vida tradicional e acolham tais conhecimentos tradicionais, assegurando o repasse da tradição.
Intensificar a luta por políticas públicas de reconhecimento das identidades coletivas das benzedeiras e de seus serviços de saúde prestados de forma gratuita e solidária à comunidade em geral.
Lutar contra todas as formas de repressão e marginalização dos conhecimentos e saberes tradicionais de cura associados ao uso sustentável da biodiversidade como estratégia de manutenção e repasse de tais conhecimentos.

Reivindicações
Realização de encontros, seminários e reuniões com médicos e funcionários do sistema público de saúde a fim de amenizar os conflitos existentes entre as práticas e conhecimentos tradicionais e o sistema formal de saúde, sendo estes espaços articulados pela Secretaria de Estado da Saúde do Estado do Paraná.
Diálogo com a Secretaria de Estado da Saúde do Estado do Paraná a fim de regulamentar o livre acesso das benzedeiras aos postos e hospitais de saúde a fim de realizar benzimentos e costuras de rendidura aos pacientes internados que solicitarem a realização das práticas tradicionais de cura de forma complementar aos seus tratamentos convencionais de saúde.
Diálogo com o poder público a fim de fortalecer o reconhecimento e a valorização de políticas públicas voltadas às demandas dos povos auto–definidos como detentores de ofícios tradicionais de cura, fortalecendo localmente e regionalmente a efetivação da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil, instituída pelo Decreto Federal nº 6.040/2007, em consonância com a Constituição Federal em seus artigos 215 e 216, a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), também nos artigos 190 e 191 da Constituição do Estado do Paraná, somando-se a isso as Leis Municipais de Reconhecimento dos Detentores de Ofícios Tradicionais de Cura dos municípios de Rebouças/PR, inscrita sob o número 1.401/2010 regulamentada pela Decreto nº 027/2010 e São João do Triunfo/PR, 1.370/2011.
Instituição do Conselho Estadual de Povos e Comunidades Tradicionais do Paraná, a fim de que seja um espaço institucional de articulação e implementação de políticas públicas voltadas aos povos e comunidades tradicionais do Paraná, entre estes, os detentores de ofícios tradicionais de cura.
Efetivação da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos e Política Nacional das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde no Sistema Público de Saúde, possibilitando a participação efetiva dos Detentores de Ofícios Tradicionais de Cura.
Fomento para a criação do Ponto de Cultura das Benzedeiras a nível regional a fim de valorizar e reconhecer as benzedeiras como agentes de promoção cultural, bem como, proporcionar estratégias para o processo organizativo mobilizado pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA).
Realização do Encontro Nacional das Benzedeiras, possibilitando visibilidade social e a articulação entre os vários detentores de ofícios tradicionais de cura no Brasil e suas experiências organizativas e de práticas tradicionais de cura, por meio da Secretária da Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura.
Elaboração de estratégias junto aos órgãos de fiscalização e gestão ambiental para a regulamentação do livre acesso as plantas e ervas medicinais e Olhos d´Água do Monge João Maria em áreas de unidades de conservação; implementação de viveiros de ervas e plantas medicinais nas comunidades e município a fim de preservar e resgatar a biodiversidade de plantas medicinais de uso das benzedeiras; fiscalização do desmatamento desenfreado que ocasiona a extinção das plantas e ervas medicinais das matas nativas; proibição do uso de agrotóxico em áreas de plantas medicinais nativas e Olhos d´Água do Monge João Maria, locais sagrados de uso da coletividade dos detentores de ofícios tradicionais de cura.  
Desta maneira, confirmamos com nosso Encontro a força que vem das comunidades e se reforça no Movimento Aprendizes da Sabedoria, para sermos reconhecidos e alcançarmos nosso lugar de direito em todas as regiões em que estamos presentes. Sendo assim, nosso Encontro cumpriu com o objetivo de estimular nosso ânimo de continuar cuidando da vida, nossa missão Sagrada, dada por Deus e assumida por nós.


Rebouças - Paraná, 10 de novembro de 2012.


MOVIMENTO APRENDIZES DA SABEDORIA - MASA

INFORME 2º ENCONTRO DAS BENZEDEIRAS DO CENTRO SUL DO PARANÁ



Mística de abertura do Encontro, Dona Glorinha (Parteira e Benzedeira), Dona Chica (Parteira), Dona Donaria (Parteira e Benzedeira). Foto Lina Faria.

Nos últimos dias 09 e 10, cerca de 80 detentores de ofícios tradicionais de cura, auto-denominados como benzedeiras, benzedores, curandeiras, curadores, costureiras e costureiros de rendidura e/ou machucadura, rezadeiras e rezadores, remedieiras e remedieiros, massagistas tradicionais, parteiras e aprendizes de benzedura dos municípios de Fernandes Pinheiro, Inácio Martins, Irati, Rebouças, Turvo, São João do Triunfo e São Mateus do Sul, estiveram reunidos no 2º Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná, realizado pelo Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA) na Sede da Terceira Idade, no município de Rebouças, região centro sul do Estado do Paraná.
Também participaram e contribuíram com evento cerca de 20 convidados entre autoridades, pesquisadores e apoiadores representantes da Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses (APF), Centro Missionário de Apoio ao Campesinato Antonio Tavarez Pereira (CEMPO), Centro de Apoio Operacional as Promotorias de Direitos Constitucionais (CAOP) do Ministério Publico do Estado do Paraná (MPE/PR), Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Heifer Internacional, Instituto Chico Mendes de Proteção à Biodiversidade (ICMBio), Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP), Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil (PNCS), Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais, Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA), Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO), Secretária de Estado da Saúde (SESA), Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) do Ministério da Cultura (MinC).

Mística de abertura do Encontro. Foto: Lina faria.
No primeiro dia do evento foi lançado o Boletim Informativo do Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil “Conhecimentos Tradicionais e Mobilizações Políticas: o direito de afirmação da Identidade de Benzedeiras, municípios de Rebouças e São João do Triunfo, Paraná”, o qual compartilha o processo organizativo das benzedeiras correspondente ao período de formação do MASA durante o 1º Encontro Regional das Benzedeiras que aconteceu em 2008 até o período preparatório do 2º Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná em 2012.
O Procurador da Justiça Marcos Bittencourt Fowler (MPE/PR) teve valiosa contribuição á programação do Encontro, expondo os desafios para efetivação dos direitos das benzedeiras e os aparatos jurídicos que garantem tais direitos, destacando no entanto, que a organização social dos detentores de ofícios tradicionais de cura é essencial para que o reconhecimento e respeito sejam conquistados.
No final da tarde do dia 09, na Mesa “Políticas Públicas de Reconhecimento” a participação da Secretária de Estado de Saúde (SESA) por meio do Sr.João Antonio Almeida Júnior, Diretor da 4º Regional de Saúde Irati, teve como encaminhamento o compromisso da SESA em criar espaços de diálogo entre profissionais de saúde e benzedeiras a fim de articular estratégias para minimizar os conflitos entre o sistema formal de saúde e os detentores de ofícios tradicionais de cura, inclusive em relação ao reconhecimento e acolhimento das práticas tradicionais de cura no sistema público de saúde.
Dr.Ione Carvalho, Diretora Nacional de Cidadania e Diversidade Cultutal do MinC, manifestou o reconhecimento do MinC em relação ao importante trabalho de amor desenvolvido pelas benzedeiras em suas comunidades, que contribuem diretamente com a promoção da saúde à população e a manutenção da cultura tradicional. Destacou a necessidade em articular as experiências organizativas das benzedeiras a nível nacional, e apresentou as políticas disponíveis que podem serem acessadas pelas benzedeiras a fim de contribuir com a mobilização e reconhecimento dos detentores de ofícios tradicionais, entre elas os Pontos de Cultura que tem como função articular e promover visibilidade social as experiências culturais.

Mesa de Políticas Públicas de Reconhecimento com Dra.Ione Carvalho (SCDC/MinC) e Ana Maria dos Santos (MASA). Foto: Lina Faria.

A noite se encerrou com a Dança de São Gonçalo apresentada pela Grupo de Romaria de São Gonçalo Família Moraes da comunidade de Góes Artigas, município de Inácio Martins que há mais de quatro gerações reproduzem culturalmente essa manifestação de fé e devoção.
No segundo dia de Encontro as benzedeiras por meio de oficinas temáticas trocaram experiências sobre plantas e ervas medicinais, simpatias, benzimentos, curas, rezas, simpatias, orações, esfregações, puxados, banhos, costuras de rendidura, massagens e demais práticas tradicionais de cura, espaços em que a troca de saberes e conhecimentos tradicionais foram enriquecidas pelas inúmeras folhas, ramos, cascas e raízes trazidos das comunidades e que fortaleceram a identidade coletiva do grupo, possibilitando também a integração e aprendizado dos aprendizes de benzedura.

Mística do 2º Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná. Foto: Lina Faria.
Os trabalhos em grupo levantaram demandas e proposta das comunidades que serão diretrizes de luta do movimento nos próximos anos e que também contribuíram para organização e fortalecimento interno do MASA reafirmando o compromisso das benzedeiras em intensificar a luta pela manutenção, repasse e reconhecimento dos saberes e conhecimentos tradicionais de cura e de seus detentores, como sinal de resistência e preservação desse modo de vida tradicional de grande valia a toda a população e a preservação da cultura tradicional.
Para conhecimento segue no próximo post a CARTA DAS BENZEDEIRAS, que sintetiza os compromissos reafirmados pelas benzedeiras e as reivindicações que serão animo de luta para o próximo período. 

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

No final desta semana acontecerá o 2º Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná!


O Movimento Aprendizes do Sabedoria (MASA) está esperando benzedeiras, benzedores, curadeiras, curadores, massagistas tradicionais, remedieiros, costureiros e costureiras de rendidura e aprendizes de benzedura de toda a região centros sul do Paraná no 2º Encontro das Benzedeiras do Centro Sul do Paraná que acontecerá nos dias 09 e 10 de novembro nas dependências da Sede da Terceira Idade no município de Rebouças (PR).

Já confirmaram presença no evento benzedeiras das cidades de Rebouças, Rio Azul, Irati, São João do Triunfo, São Mateus do Sul, Fernandes Pinheiro, Pinhão, Guarapuava e Castro, alem de autoridades representantes do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC) do Ministério da Cultura (MinC), Secretária de Estado da Cultura do Paraná, Centro de Apoio Operacional as Promotorias de Direitos Constitucionais (CAOP) do Ministério Publico do Estado do Paraná (MPE), secretárias municipais de saúde e cultura e movimentos sociais e entidade de apoio articuladas a Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais.


Também está confirmada para a noite do dia 09/11 apresentação cultural da “Dança de São Gonçalo” do Grupo de Romaria de São Gonçalo Família Moraes da comunidade de Góes Artigas, município de Inácio Martins.

Espera-se que o Encontro seja um espaço de diálogo e articulação entre as benzedeiras do centro sul do Paraná, a fim de continuar a luta pela visibilidade social e efetivação de direitos das benzedeiras!

Informamos que o evento será realizada na Sede da Terceira Idade de Rebouças, localizada na Rua Presidente Vargas, nº 87, Centro, CEP:84.550-000, ao lado do Corpo de Bombeiros.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

BOLETIM INFORMATIVO DAS BENZEDEIRAS “Conhecimentos Tradicionais e Mobilizações Políticas: o Direito de afirmação da identidade de Benzedeiras e Benzedores, municípios de Rebouças e São João do Triunfo, Paraná”


As Benzedeiras consolidaram seu espaço de organização social no 1º Encontro Regional de Benzedeiras que aconteceu no dia 06 de setembro de 2008 na UNICENTRO em Irati/PR por iniciativa da Associação Aprendizes da Sabedoria de Medicinais e Agroecologia (ASA) com apoio do Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP), Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses (APF) e Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais. Neste momento foi formado o Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA), um espaço de articulação das Benzedeiras da região Centro-Sul do Paraná buscando a efetivação de direitos por meio da organização política das Benzedeiras.

Desde então nesses últimos quatro anos o MASA vem construindo sua luta na região Centro-Sul do Paraná, com maior ênfase nos municípios de Irati, Rebouças e São João do Triunfo, no entanto também realizou atividades nos municípios de Fernandes Pinheiro, Guarapuava, Inácio Martins, Prudentopólis, São Mateus do Sul, Santa Maria do Oeste. Neste período foram realizados três encontros municipais, dois mapeamentos sociais, inúmeros encontros comunitários e oficinas temáticas, dentre outros espaços de reunião, troca de experiências, articulação e reivindicação de direitos.

Nesse curto período de tempo as Benzedeiras conquistaram visibilidade social, por meio de reconhecimento local conquistando aprovação de duas leis municipais, dois prêmios nacionais e a importante integração à Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais, a qual possibilitou a articulação das Benzedeiras com demais povos e comunidades tradicionais no Paraná, bem como, a participação em espaços de construção de políticas públicas para povos e comunidades tradicionais, inserindo as demandas das Benzedeiras na pauta do Estado.

A fim de dar visibilidade ao trabalho que vendo sendo realizado pela Benzedeiras o Movimento Aprendizes da Sabedoria com apoio do Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil organizou em abril deste ano o 1º Boletim Informativo das Benzedeiras do MASA intitulado “Conhecimentos Tradicionais e Mobilizações Políticas: o Direito de afirmação da identidade de Benzedeiras e Benzedores, municípios de Rebouças e São João do Triunfo, Paraná”.  

O Boletim registra importantes informações em relação ao processo de organização do MASA, bem como, ações desenvolvidas inclusive os Mapeamentos Sociais das Benzedeiras. O material está sendo usado como ferramenta de fortalecimento das Benzedeiras, contribuindo na mobilização das Benzedeiras para conhecerem seus direitos e também para participarem do 2º Encontro das Benzedeiras do Centro-Sul do Paraná que acontecerá nos dias 09 e 10 de novembro de 2012 em Rebouças / PR ocasião que será lançado oficialmente o Boletim Informativo das Benzedeiras, no entanto o mesmo está disponível para download em:


segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Seminário discute propostas para melhoria da cadeia de valor do pinhão da região de Irati


O Seminário para Discussão de Gargalos e Potenciais da Cadeia de Valor (CdV) do Pinhão foi realizado no último dia 21 (sexta-feira) na sede do Instituto Equipe de Educadores Populares (IEEP) em Irati, e reuniu extrativistas, pequenos agricultores e faxinalenses da região Centro-Sul do Paraná, além de técnicos e pesquisadores da EMBRAPA Florestas, IFPR-Irati, SEAB e IAP.


O objetivo do encontro foi promover o dialogo sobre os principais potenciais e gargalos da CdV do Pinhão identificados na região Centro-Sul do Paraná a fim de construir de forma participativa estratégias para superação de tais problemáticas, bem como, multiplicar as boas experiências aproveitando desta maneira os potenciais presentes na região.  Para tanto os participantes formularam propostas que serão inseridas no Plano de Melhoria da CdV do Pinhão no Paraná, o qual está sendo elaborado a partir das informações coletadas no Mapeamento da CdV do Pinhão e demais espaços propostos pelo projeto como Oficinas e Seminários.

A atividade faz parte do Projeto 537 – MA “Cultura e Tradição: estratégias de promoção da CdV do Pinhão no Paraná” apoiado pelo Ministério do Meio Ambiente por meio do Programa de Projetos Demonstrativos (PDA) com objetivo de fomentar a estruturação da CdV do Pinhão no Paraná, fomentando estratégias de valorização e fortalecimento do pinhão como produto da sociobiodiversidade da Mata Atlântica e desta maneira fortalecer sócio-culturalmente os povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares.

No dia 28, próxima sexta-feira a mesma atividade será realizada na região Centro, no município de Guarapuava nas dependências da Fundação Rureco, localizada na BR 277/Km 348.

Rede Puxirão irá participar do Seminário Outros Mapas: Cartografia e Pesquisa Social



Em outubro durante os dias 15 à 17 em Recife (PE), à Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais será representada no Seminário Outros Mapas: Cartografia e Pesquisa Social pela Benzedeira Ana Maria dos Santos do Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA) e Rômulo Barroso Miranda do Fórum Paranaense das Religiões de Matriz Africana (FPRMA) a convite da Fundação Joaquim Nabuco.

O Seminário pretende por em debate diferentes perspectivas sobre as relações entre a cartografia, as ciências humanas e formas não acadêmicas de produção de conhecimento, em especial aquelas ligadas a processos de transformação social.

Ana Maria e Romulo irão apresentar experiências dos povos e comunidades tradicionais do Paraná articulados na Rede Puxirão em relação à elaboração de mapeamentos e cartografias sociais, processos de pesquisa que têm auxiliado a organização dos povos e comunidades tradicionais no Paraná.

A elaboração de mapas e fascículos são realizados pelas comunidades em parceria com pesquisadores do Projeto Nova Cartografia Social dos Povos e Comunidades Tradicionais do Brasil. Nos últimos anos essa ferramenta tem contribuído para visibilidade dos conflitos sociais enfrentados pelas comunidades tradicionais para manutenção de seus modos tradicionais de vida.

Maiores informações disponíveis em:                                   
http://www.fundaj.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1385&Itemid=727

ESTA CHEGANDO O 2º ENCONTRO DAS BENZEDEIRAS DO CENTRO-SUL DO PARANÁ



O Movimento Aprendizes da Sabedoria (MASA) realizará nos dias 09 e 10 de novembro de 2012, nas dependências do Centro Cultural do município de Rebouças o 2º Encontro das Benzedeiras do Centro-Sul do Paraná. 


Participarão do evento benzedeiras, benzedores, curadeiras, curadores, costureiras e costureiros de rendidura ou machucadura, rezadeiras, rezadores, remedieiras, remedieiros, massagistas tradicionais, parteiras e aprendizes de benzedura da região Centro-Sul do Paraná, além de autoridades, órgãos de pesquisa, entidades parceiras e movimentos sociais.

O objetivo do 2º Encontro é viabilizar um espaço para articulação e troca de experiências entre as Benzedeiras da região Centro-Sul do Paraná com intuito de fortalecer a luta do MASA pelo reconhecimento de direitos das Benzedeiras, por meio de diálogo com o poder público e elaboração de estratégias para superação dos conflitos étnicos, culturais, ambientais e sociais.

O “Encontrão das Benzedeiras” será sobretudo um espaço de diálogo,  primeiramente entre as Benzedeiras e num segundo momento entre Benzedeiras e poder público a fim de criar estratégias para o reconhecimento da identidade coletiva e cultural das Benzedeiras, bem como, seus serviços de saúde prestados gratuitamente à população.

Contatos e informações

E-mail: aprendizesdasabedoria@yahoo.com.br

Oficinas discutem boas práticas de manejo para Espinheira Santa e Erva-Mate

Oficina Espinheira-Santa
A primeira oficina teve como foco a Espinheira-Santa (Maytenus ilicifolia) que foi trabalhada nos dias 11 e 12 de setembro, já na última semana nos dias 18 e 19 o centro das discussões foi a Erva-Mate (Ilex paraguarienseis), produtos que como o pinhão são encontrados na região Sul do Brasil e cumprem importante valor econômico, cultural e ambiental. 

Oficina Erva-Mate (Plenária)
As oficinas tiveram como objetivo consolidar protocolos mínimos contendo diretrizes e recomendações técnicas para adoção de boas práticas para o extrativismo sustentável orgânico das espécies de Espinheira Santa e Erva-Mate (Maytenus ilicifolia e Ilex paraguarienseis) de forma participativa a fim de complementar a Instrução Normativa Conjunta nº17 do MAPA/MMA a qual dispõe sobre o extrativismo orgânico sustentável, isto é, sobre práticas extrativistas que conservem a espécie, bem como, o bioma de ocorrência no caso a Mata Atlântica.

Espinheira-Santa 

Ambas oficinas foram realizadas na UNICENTRO Campus CEDETEG pela Coordenação de Agroecologia do Ministério da Agricultura,  Pecuária e  Abastecimento (MAPA) por meio do PROBIO II (Projeto Nacional de Ações Integradas Público-Privadas para Biodiversidade) que reuniram comunidades tradicionais (faxinalenses, indígenas kaigangs, benzedeiras e quilombolas), agricultores familiares, agroecologistas, acampados, técnicos, pesquisadores, órgãos ambientais e empresários.

Oficina Erva-Mate (Plenária)

Para realização das Oficinas a organização do evento contou com a colaboração da Rede Puxirão de Povos e Comunidades Tradicionais, Fundação Rureco e Reitoria de Extensão e Cultura da UNICENTRO.

A elaboração de diretrizes de manejo para o extrativismo orgânico e sustentável dos produtos da sociobiodiversidade é uma ação do Plano Nacional de Promoção de Cadeias dos Produtos da Sociobiodiversidade a fim de promover mercados sustentáveis que reconheçam os valores sociais, ambientais e culturais agregados a tais produtos a fim de promover sustentabilidade e gerar renda aos povos e comunidades tradicionais e agricultores familiares. 


quarta-feira, 4 de julho de 2012

Viva São Gonçalo! Viva São João Batista! Viva!

Romaria de São Gonçalo

Na noite do dia 23 de junho até amanhecer o dia 24, foi de muita festa e devoção na Comunidade de Góes Artigas, localidade de Km 101. Na casa de José Moraes, por mais um ano seguindo a tradição de mais de três gerações a Família Moraes realizou a Romaria de São Gonçalo em devoção a São Gonçalo e São João Batista.

Família Moraes - Cantadeiras, Romeiro e Ajudantes do Romeiro
Graças ao bom tempo e a coragem dos devotos em enfrentar à má condição das estradas, muitas pessoas estavam presentes, da comunidade de Góes Artigas à maioria, mas também muitas pessoas das Comunidades de Assentamento Europa, Barreiros, Banhados, Guará, Itapara e das cidades de Curitiba, Guarapuava, Irati, Inácio Martins, Ponta Grossa, São Paulo, entre outras.
Preparativos da Festa
Dias antes do dia da Romaria de São Gonçalo, a organização da Festa começou. Foram muitas coisas organizadas com antecedência para que tudo estivesse pronto para receber os devotos e Dançar São Gonçalo. Para tanto a família e vizinhos se ajudaram para construir, desmanchar, arrumar, pintar e enfeitar.
As duas cáeiras em homenagem a São João Batista, que iluminaram e esquentaram a noite, foram construídas de lenha em forma de mutirão familiar, segundo José Moraes as mesmas variaram de 15 à 20 metros de altura cada;
Como todos os anos foi “carneado” isto é abatido um porco, cuja a carne acompanhou a tradicional quirerada, preparada por Noeli Moraes, esposa de José Moraes. Depois da “carneança”, a carne foi fritada e conservada na lata para guardar o sabor sem igual do porco crioulo;
Arrumação do altar, essa atribuição foi assumida por Vera Lucia e Rosilda de Moraes que decoraram o altar com folhas de butieiro, pinhas e flores, tudo para aconchegar as imagens de São Gonçalo, São João Batista e Nossa Senhora Aparecida;
As bandeirinhas de beleza singular, cada uma com cor e cortes específicos, fez com que a simplicidade do papel ceda dessa cor a casa e a noite de Romaria. As bandeirinhas de feitio de Cecília Maria de Moraes foram ensinadas por ela à suas filhas Vera Lucia e Rosilda que com muito apreço as fazem e, esse ano tiveram ajuda de Jackson Moraes, filho de Vera Lucia;

O mastro a São João Batista foi preparado por José Moraes, a escolha da madeira e a pintura foram feitas com muita devoção, pois a bandeira do mastro ficará hasteada pelo período de um ano, até a próxima Romaria. As tintas usadas na pintura geralmente são ofertas de festeiros, que se comprometeram na festa anterior a contribuir com a realização da Festa desse ano, a festeira que doou as tintas desse ano foi Eva de Moraes irmã de José de Moraes. A bandeira de São João Batista a qual foi pregada ao mastro foi encomendada a costureira da comunidade Tereza Saldanha que confeccionou a bandeira, desenhando e pintando São João Batista.
Arrumação da casa, está função fica à cargo de Noeli Moraes que disponibiliza sua casa para realizar a festa, os moveis são removidos para dar espaço ao altar e aos devotos que ali passam à noite. Para tanto é necessário muito trabalho para conseguir espaço, lembrando que os quartos também são usados para as crianças dormirem enquanto os adultos rezam e dançam;
A comida foi preparada como de costume por Noeli Moraes. No fogão não faltou lenha, pois o trabalho é continuo. Foi necessário esquentar a carne de lata que já tinha sido frita anteriormente, preparado um grande taxo de quirera, sem contar que o chimarrão não parou de rodar a noite toda. Sendo que na semana de Romaria Dona Noeli recebeu muitas visitas em casa, algumas para ajudar nos preparativos e outras para participar da festa. Na noite de Romaria além da janta que foi servida por volta das 20h, no forte do frio e do sono foi servido o famoso café da madrugada para dar ânimo as cantadeiras, rezadores e devotos.  
Romaria de São Gonçalo – Noite de Fé e Festa
Os devotos chegaram à pé, de cavalo, carroça, carro e carona. E assim se iniciou à ansiedade para começar a Dança de São Gonçalo, enquanto isso foi servido a janta, colocado as crianças para dormir, e aproveitado o tempo para se aquentar na cáeira e tomar um quentão, pois na noite de Romaria sempre faz muito frio.
A Dança para São Gonçalo é feita em volteadas, isto é, são separadas em números impares de um à sete, no caso dessa Romaria foram dançadas três volteadas. Cada volteada é composta por pares impares formados por casais de homens e mulheres, separados em duas filas, à direita as mulheres atrás do Romeiro e a esquerda os homens seguindo o ajudante de Romeiro. A frente das mulheres estava o Romeiro José Moraes, e a frente dos homens se revezaram os ajudantes de Romeiro Silvio e Antonio de Moraes.
Durante a volteada não se pode entrar ou sair pares, quem entra na dança precisa permanecer até o fim da volteada, o Romeiro exige o respeito dos participantes, tanto os que estão dançando como os que estão assistindo não podem permanecer de chapéu ou boné na cabeça, precisam parar de conversar ou conversar baixo de maneira que não atrapalhe o rito e jamais beber bebidas alcoólicas durante a volteada.
Cantadeira Noemia, beijando o Santo - Dança de São Gonçalo
As cantadeiras compõe os primeiros lugares da fila das mulheres e cantam para São Gonçalo cantigas que aprenderam pela tradição as quais dão lhe vida  com agudos em repetidos estrofes. Quatro cantadeiras são irmãs, são elas, Maria Rosa Lewitzki, Eva Oliveira, Vera Lucia de Moraes e Rosilda de Moraes, que seguindo os passos de seu pai já falecido, o Capelão Manoel Pires de Moraes, cresceram cantando e rezando Romarias, Recomendas, Novenas e Velórios juntamente com seus irmãos e primos. Neste ano à Cantadeira Noemia, prima da família e moradora da Comunidade de Barreiros também ajudou cantar à Romaria.
A Dança de São Gonçalo consiste em beijar São Gonçalo no altar, não lhe dando as “costas” de maneira alguma, em forma de homenagem, agradecimento e louvor ao Santo.
Após as três volteadas foi realizado a Procissão com São João Batista no Andor,  durante a procissão rezada pelo Capelão Alcides Correia foram cantados Benditos, enquanto todos caminhavam em direção ao rio também seguravam velas nas mãos, de forma simbólica retratam à lavagem do Santo no rio, a fim de aprontá-lo para sua festa.
 
Cantadeiras cantam Benditos e Ladainhas enquanto é erguido o Mastro.
Vera Lucia de Moraes retirou o quadro de São João Batista do Andor e o banhou no rio, secando-o com uma toalha nova, ou seja, ainda não usada. Após, todos que desejaram puderam “se lavar” no rio, com objetivo de espertar no sono que assolava a madrugada, bem como, “se benzer”, isto é, se purificar e se proteger com a benção de São João Batista.
Depois deste momento, apenas com a luz das velas e das cáeiras, sob as Ladainhas e Benditos os homens se encarregaram de erguem o Mastro, pregando no mesmo a bandeira de São João Batista que acompanhou a procissão. O Mastro erguido ficará hasteado até à próxima Romaria, neste momento inúmeros fogos de artifício foram queimados em louvor a São João Batista.
Erguida do Mastro de São João Batista
Retornando para dentro de casa novamente, o Capelão conduziu a Novena da Festa rezando orações da cartilha de rezas do ano de 1906, a qual pertenceu ao Capelão Manoel Pires de Moraes, que em sua época à rezava. As escritas são rezadas e cantadas em latin, em oferenda à devoção da família a São João Gonçalo e São João Batista, desencarregando a promessa feita.
Novena da Festa - Romeiro José Moraes 
O último rito da Festa aconteceu quando o dia 24 já estava claro, e os festeiros do próximo ano foram agradecidos um à um com a queima de um foguete.
Nos intervalos das volteadas e demais ritos, Alcides Correia gritou o leilão com prendas doadas pelos festeiros, que foram litros de bebidas, galinhas, assessórios de cozinha, etc. Que serviram para contribuir com os gastos da festa.
A Romaria que acontece rodeada de mato fechado, fez do céu um clarão, pois marcando cada rito, desde à chegada dos participantes até o amanhecer foram queimados inúmeros foguetes, sob à responsabilidade dos filhos e sobrinhos de Jose Moraes que controlaram a queima dos fogos. 
Devoção e Tradição
Para Família Moraes a Romaria não é uma diversão, é sobretudo uma tradição  de décadas fundamentada na devoção aos Santos Festeiros, um ato de fé que se torna a cada ano uma missão a ser realizada, respeitando a memória do Capelão e patriarca Manoel Pires de Moraes e correspondendo ao desejo da mãe dessa grande família Cecília Maria de Moraes que incentiva a Família à realizar essa linda devoção todos os anos.

Cecília Maria de Moraes - Beijando o Santo.
O dia de Romaria de São Gonçalo é esperado pela Família Moraes, vizinhos e moradores dos arredores, faz parte da cultura tradicional da região e por isso precisa ser fortalecida como prática cultural, para que assim supere o risco de ser extinta como tantas outras práticas tão importantes à preservação de nossa cultura local.

Texto e Fotos por Taisa Lewitzki
Fonte: http://goesartigas.blogspot.com.br/2012/07/viva-sao-goncalo-viva-sao-joao-batista.html

segunda-feira, 11 de junho de 2012

OFICINA EM TURVO DEBATE CADEIA DO PINHÃO



 No dia 17 de Maio, aconteceu a Oficina de Cadeia de Valor de Pinhão em Turvo. O Evento contou com a participação de 54 pessoas de varias entidades dentre as quais destacam-se IAP, EMATER-Turvo, Sec. Agricultura de São José dos Pinhais, CONAB, MDA-TERRITORIO CENTRO,  STR- Campina do Simão, STR-Turvo, AGAECO, IAF, COPAFLORA, IEEP, REDE PUXIRÃO, APF, MST, Associação Cultura Rádio Comunitária Turvo – ACRCT e ASSOPINHO. Foram realizados trabalhos em grupos divididos em extrativistas que fazem a coleta, vendedores/compradores, órgãos governamentais e entidades de apoio.
Na avaliação os participantes afirmaram que nunca se teve uma discussão sobre pinhão neste nível na região e que um dia foi pouco para trocar as experiências. Foi avaliado ainda que nos seminários regionais é preciso pautar as experiências e no Seminário Estadual juntar mais uma articulação que irá juntar as características que formatarão as resoluções junto ao MMA. Foi proposto ainda um Seminário Regional, em Guarapuava, para debater o assunto com mais tempo, para o mês de Julho.
Segue a baixo as discussões e proposições da Oficina.
Extrativistas que fazem a coleta
Estes relatam que o Pinhão é uma renda extra da família alem de ser produto tradicional que ajuda a preservar o meio ambiente, pois sem preservação do pinheiro não é possível tirar o pinhão. Outra questão apresentada foi a legislação “por exemplo nesta região a algumas variedades que desfalham (madura) no mês de março, sendo que pela lei permite somente tirar pinhão a partir de 15 de abril. Agente cuida para tirar o pinhão maduro, porque sabe que se não for um produto bom não vai ter como vender”, afirmam eles.
Compradores/Vendedores
Eles afirmaram que a qualidade do pinhão é fundamental sugerem ainda que é preciso ser definido o preço do pinhão pela qualidade, visto que “o pinhão catado do chão bicha facilmente, já o pinhão tirado da pinha dura mais tempo. Temos que ter um preço tabelado para compra do pinhão dos extrativistas, pois quando tem muito pinhão o CEASA baixo o preço e muita gente que comprou a um preço alto perde”, destacam eles.
Órgãos Governamentais
O representante da Companhia Nacional de Abastecimento – CONAB Itamar Pires de Lima Junior afirmou que “a CONAB tem como foco a comercialização, e já tem um preço de referencia para o comercio do pinhão, determinado pelo pela PAA e PNAE.” Afirmou ainda que será construída uma política de preço mínimo que garante que quando o produtor não conseguir vender no mercado o pinhão pelo preço mínimo estabelecido a diferença é bancada pela CONAB. Marcelo Lubas da secretaria da Agricultura de São José dos Pinhais apresentou a experiência da região metropolitana, que tem por base o processo organizativo, “os catadores se organizaram numa associação e isso faz com que eles tenham mais força para lutar por melhorias” afirma.  O representante do IAP Marcos A. Geminski – IAP Irati, afirmou que uma das grandes pressões de derrubada dos pinheiros vem do agronegócio, e que a lei para comercialização precisa ser mudada para a venda do produto maduro, independente se mês de março, abril ou julho. Nilson Padilha representante do MDA/Território da Cidadania Paraná Centro afirmou que o Território é parceiro para ajudar na elaboração da cadeia do pinhão e “é possível pensar a criação de projeto para viabilizar essa dinâmica e discussão dentro das câmaras técnicas do território.”
Entidades e ONGs
No Turvo a COOPAFLORA, compra dos cooperados, beneficia e vende cerca de 2 toneladas na ultima safra,  compram também as falhas, o miolo para medicinas. A AGAECO afirmou que o pinhão é entrega para merenda escolar no programas PAA e PNAE com perspectiva de 5 toneladas para serem comercializadas, este ano. O STR de Turvo se colocou a disposição apoiar o trabalho e as reivindicações do produtores. A Articulação Puxirão dos Povos Faxinalenses esta sempre em contato com os extrativistas, incentivando os faxinalenses que preservem e façam a extração para reverter em renda para as famílias e a comunidade, enquanto muitos estão vendo os pinheiros como estorvo, ela esta dando a oportunidade para essa discussão do tema.
 







Fonte: Web Rádio TURVO ATIVO